sexta-feira, 24 de abril de 2009

GUERREIRO DE VIRIATO

A voz dos deuses bradou
Invocando Tôngio narrando a história
O seu grito pelos tempos suou
Que só mais tarde conheceu vitória

Sacerdote do deus Endovélico
E guardião do seu santuário
Com dom supremo e evangélico
Foi de encontro ao seu destinatário

Nascendo sob o jugo de Roma
Embora de educação completa
De seu pai Tongétamo ainda soma
A vingança crua e directa

Beduno, escravo e amigo do guerreiro
Camala, sua mãe mulher activa
Mostram-lhe o seu destino certeiro
E a chaga do futuro sempre viva


Um dia foi-lhe entregue arma e cavalo
E experiência amorosa inesquecível
Lobessa, de tanto desejá-lo
Entregou seu escravo corpo desprezível

Vagueando chega junto do Endovélico
O qual se transforma em inimigos
Chegando a ver seu fim medonho e bélico
Carregado de mortes, vidas e perigos

Foi em Alcóbriga que isto aconteceu
Ficando Embora muito perto do local
O guerreiro rapidamente sentiu no céu
Que o seu destino seria a luta contra o mal

Sob ordens de Cúrio e Apuleio
Guerreiros de ascendência Lusitana
Aumentou o seu rancor cruel e feio
Cheio de ódio, saques, violência e fama




Os adversários sempre foram os Romanos
As mortes sucediam-se sem pudor
Longas jornadas, genocídios e enganos
Esqueciam a existência do amor

Montes Hermínios, região de beleza agreste
Foi aí que encontrara Viriato
Que em palavras de confiança investe
Comandando a guerrilha no meio do mato

Falou-se de extermínio dos Lusitanos
Escolhendo-se cinco chefes para a guerra
Contemplava ambientes muito estranhos
E o respeito silencioso vindo da serra

A batalha maior de sua vida
Onde se tornou digno de Viriato
Tendo o exército de Caio Vetílio recaída
Os Romanos deixaram ceder seu aparato




As conquistas prosseguiam com alvor
De surpresa atacavam povos um a um
Os aliados de Roma tinham pavor
Segóbrio, Segóvia e Toletum

Urso, Itucci, Arunda
Terras em poder dos Romanos
Ébora, cidade pequena e profunda
Serve de base a Viriato e Levianos

Daqui rumam a Olisipo e Serra da Lua
E de uma rocha em forma de coelho
Nasce uma deusa completamente nua
Que Arduno ou Tôngio recordará quando já velho

A Igedium fez destino silêncioso
Seria aí que reencontravam Viriato
Cróvia escolhera-o para o acto amoroso
Ficando enamorado e simplesmente estupefacto




Guerras continuaram sem cessar
Desastres, casamentos, ódios e mortes
Agitações, discórdias, desconfianças no ar
Era a disciplina dos exércitos fortes

O estandarte do Touro rasgado e apodrecido
Tôngio recorda junto do lume ao serão
Bebendo lágrimas por o chefe ter falecido
Sendo o crime preparado pelo romano Cepião

Viriato estava morto!
Mínuro, Audax e Ditalco, foram seus assassinos
O futuro da Ibéria fora corto
Mas a lenda continua e os seus hinos

Tôngio ainda conta sem esperança
Que foi Tautalo de Viriato sucessor
Ainda moveu um ataque de vingança
Aí morreu Arduno sem rancor




Próximo de Ammaia passa o Inverno solitário
Vivendo apenas de generosidade dos pastores
Desistindo daquela vida de legionário
Deixa no passado os seus dois grandes amores

E agora um invólucro esperando a morte
Respeitando a voz dos deuses com fervor
E é aí que Endovélico lhe dá sorte
Porque do Templo é guardião e servidor

- “ Finalmente estou em paz com os homens
e com Endovélico e não me perturba a
certeza de que uma destas manhãs será
a última.”
- Baseado no livro (A voz dos Deuses)
- Memórias de um companheiro de Viriato.


in "A Noite dos Tempos"

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